As Escrituras Sagradas recomendam-nos trazer à memória nossa Fé, aquilo em que cremos, sempre que necessário, (2 Tm 1:5).
Imaginemos a seguinte situação: você está diante de um tremendo
conflito pessoal ou existencial e tem disponível – literalmente a
qualquer momento – versículos memorizados para sua consulta íntima
diante da adversidade. São versículos que formaram seu caráter cristão e
tem cooperado no seu aprimoramento ao longo da caminhada com Deus. São
como setas indicativas dispostas pelo melhor Guia que se possa imaginar,
conduzindo ao caminho mais seguro por esse mundo de incertezas.
Por outro lado, imaginemos uma segunda situação: seja incrédulo, seja
cristão, novo convertido ou veterano, que não dispõe desse recurso para
trazer à memória quando o dia mal chega; está sozinho consigo mesmo,
com suas próprias conclusões, digamos assim.
Acredito que não há muita dificuldade em deduzir qual dessas
situações a pessoa terá maior segurança, tranquilidade e, claro, acerto
nas decisões. Aliás, as Escrituras Sagradas recomendam-nos trazer à
memória nossa Fé, aquilo em que cremos, sempre que necessário, (2 Tm
1:5). Fica difícil, relembrar aquilo que não memorizamos. Não dá pra
ficar procurando aleatoriamente em nossos tablets, smartphones,
programas de computadores ou seja que meio for, à maneira de um jogo de
cartas ou caça-níquel, aquilo que Deus tem para nos dizer. A resposta
dEle é sempre uma: a correta; e não uma entre milhares de opções. As
opções são por nosso livre-arbítrio.
Meditação, uma das atividades da vida cristã, também está relacionada
com a memorização. Passa obrigatoriamente por memorizar o que se ouve,
lê ou vê. Meditar – metaforicamente falando – é ruminar o alimento
espiritual que foi servido numa pregação, numa conversa amiga ou numa
leitura profunda e impactante da Palavra de Deus. Sem memorização não há
a meditação, consequentemente não há aquele período de acomodação do
assunto apreendido em nossa mente, tornando-o disponível em nossa
memória, sempre que necessário.
A maneira mais poderosa de se levar uma vida com Deus é memorizando
as Escrituras. Sua palavra nos foi enviada não por capricho, mas para
que a lêssemos, memorizássemos, aprendêssemos e vivêssemos por ela. A
mente humana não tem as respostas certas para solucionar nossos dilemas
cotidianos, muito menos aquelas que poderiam nos conduzir a Salvação
eterna. Só obtemos essas respostas através das Escrituras.
A bem da verdade, esse certo desprezo pela memorização é reflexo de
nossa sociedade. Com milhares e milhares de computadores disponíveis
para armazenar dados e o seu acesso cada vez mais facilitado, por que
iríamos continuar memorizando coisas? Há um lema recorrente nas
discussões sobre educação que diz o seguinte: “Grande imaginação,
profunda intuição”. É o bordão comum para as realizações intelectuais,
até mesmo na ciência. Reflexo do mundo pós-romântico, pós-freudiano no
qual a imaginação foi identificada com o inconsciente mental de grande
poder criativo. É o ponto em que o homem vai procurar a partir da sua
criatividade as respostas adequadas para a boa vida. Fica declarada a
independência de Deus; desloca-se o eixo de Deus para o homem, que vai
tornar-se cada vez mais senhor de si mesmo, do seu destino, do seu
futuro.
Memória no contexto desse artigo é simultaneamente: memória treinada,
educada e disciplinada. Seu princípio fundamental é dividir o material a
ser lembrado em peças menores de tal modo que possam ser acessados
facilmente e reconstruídos no momento adequado. Isso propicia um
eficiente sistema de memória com acesso aleatório sem necessidade de
reconstruir todo o caminho laboriosamente percorrido na sua construção.
A título de exemplificação, podemos citar Tomás de Aquino que ditou
praticamente toda sua majestosa obra em meados do século XIII. É notório
um fato pitoresco de quando ele jantava com o rei Luis XI. Havia um
argumento que ele estava compondo contra os maniqueus e o preocupava há
tempos.
De repente, num átimo, bate à mesa e declara: “Isso liquida os
maniqueus!” e chama por Reginaldo – espécie de secretário – que estudava
em seu aposento. Reginaldo deixa seu quarto e acompanhando o mestre,
dispõe a escrever a medida que ele dita sem parar, tudo de memória. Esse
incidente deve ter ocorrido na primavera de 1269, enquanto estava em
curso a composição da segunda parte da “Summa theologica”.
É importante esse fato por exemplificar que um teólogo da envergadura
de Aquino, usava o tempo todo a memória para elaborar sua obra,
transitando entre os textos bíblicos e seus argumentos, com maestria.
Nos escritos originais havia a assinatura (autógrafo) dos copiadores;
uma prova de que era esse o método de trabalho de Tomás de Aquino. Há
ainda inúmeras passagens dele e Bernardo Gui, que demonstram sua
prodigiosa memória.
Estudiosos de Aquino, defendem que seria impossível tornar realidade
tamanha obra por outro método que não fosse o auxílio de exímios
copiadores, que transcreviam exaustivamente tudo o que era ditado.
Cinco verdades disponíveis para quem memoriza versículos
1 – Caminhar com Deus. “Para que guardes os meus
conselhos e os teus lábios observem o conhecimento” (Provérbios 5:2).
Para aquele que almeja uma vida justa, só há a opção de andar com Deus.
Não há outro caminho a não ser ler as Escrituras e seguir o que Deus
diz. A Bíblia nos foi dada como um meio de Deus nos comunicar seus
propósitos, sua visão e promessas. “Mas todos nós, com rosto descoberto,
refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de
glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” (2
Coríntios 3:18).
2 – Conforto para si e para os outros. Quando se lê e
apreende de coração versículos da Bíblia, as preocupações que outrora
abatiam a alma, deixam de existir porque há a garantia que Deus nos guia
nas decisões que tomamos. Ele está lá para confortar e dizer o que
fazer. Deus dissipa nossos medos desnecessários. Uma vez em paz, a
pessoa pode compartilhar com outros aquilo que é uma realidade em sua
vida, citando os versículos que trazem segurança, conforto e paz no seu
dia a dia.
3 – Comunicar-se com Deus. Ler a Bíblia diariamente e
memorizar seus versículos é como ter uma conversa com Deus. A Bíblia é o
meio que Ele usa para nos contar seus planos.
4 – Conselhos sobre o que fazer. A Bíblia ajuda a
tomar decisões sábias. Deus transmitiu sua sabedoria através da sua
Palavra. Viver segundo a Bíblia também ajuda a determinar qual decisão
tomar. Há sempre disponível o conselho de Deus em sua Palavra quando se
chega diante de uma encruzilhada da vida. Ele definitivamente ajuda na
melhor escolha.
5 – Fortaleza em dias de angústia. Quando
pressionados, sob estresse e em situações difíceis, nem sempre as
decisões serão as melhores. Há o risco de se tomar decisões erradas e
fazer coisas de acordo com uma “percepção” do que é certo. Ao memorizar a
Palavra há o conforto e a confiança que Deus guiou-nos na decisão
tomada.
Estilos de memorização
Há algumas músicas, até mesmo seculares, que grudam de tal modo e com
tamanha rapidez em nossa memória que, muitas vezes de modo
involuntário, nos pegamos repetindo-as. Ao mesmo tempo, porque
encontramos tanta dificuldade em memorizar trechos que voluntariamente
selecionamos e que julgamos ser importantes? Há atores que memorizam
quase que instantaneamente páginas e páginas de roteiros com mínimo
esforço. Pessoas diferem na maneira como aprendem. Alguns memorizam
melhor lendo em voz alta, outros sentem-se mais confiantes quando
escrevem o que leram. Há ainda aqueles que desenham e associam figuras
com conteúdos complexos que precisam ser memorizados. O segredo é
descobrir o estilo de memorização adequado a cada um.
Muitas vezes o fracasso em memorizar está ligado ao método inadequado
escolhido para o perfil da pessoa. Identificado o estilo correto, é
praticamente possível memorizar o que quiser.
Apresentamos aqui, de forma bem superficial, estilos para serem
trabalhados posteriormente para aprimorar o processo de memorização de
cada um.
ESTILO 1 – LEITOR. Essa técnica é mais adequada àqueles que tem facilidade apenas com a leitura.
ACRONISMO:
método no qual se usa a primeira ou primeiras letras de palavras para
juntar e formar outra. Vejamos o exemplo: “Sendo justificados
gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus”
(Romanos 3:24). Ficaria assim:
SeJuGra PeGra PeRe HaCJ.
Nesse método, pode-se ignorar artigos, preposições e até conjunções,
pois virão a memória naturalmente para fazer dar sentido quando se
recupera o versículo.
LEITURA REPETITIVA:
Técnica mais comum de memorização. É ler e ler até memorizar. Uma
variedade dessa técnica é ir dividindo o versículo em partes menores e
ir memorizando por partes. Memorize a parte 1; repita a parte 1 e
memorize a parte 2; avance assim, sucessivamente, até ter feito com o
versículo todo.
ESTILO 2 – CINESTÉSICO. Técnica na qual, durante o
processo de memorização, o participante gosta de se envolver não apenas
com sua mente, mas de forma corporal, fazendo gestos, ações e até mesmo
dançando.
Sugestão 1: encontre um lugar adequado e encene pra si mesmo o texto bíblico a ser memorizado.
Sugestão 2:
em seu quarto: leia em voz alta recitando para si mesmo, caminhando e
repetindo até poder recitar de memória com toda segurança.
ESTILO 3 – VISUAL. Pessoas com aptidão visual
sentem-se satisfeitas através de gráficos, cores, diagramas ou qualquer
coisa que salte aos olhos e instigue sua imaginação. Perfis assim devem
evitar lugares ou coisas que causem distração, como TV ligada,
movimentação de pessoas, barulhos etc.
Devem optar por locais que
favoreçam a concentração.
Sugestão 1: essa técnica simples, baseia-se tão somente em escrever e rescrever versículos numa folha até que se tenha memorizado.
Sugestão 2:
Usar cartões ou cartazes. Já que esse perfil pode lembrar-se facilmente
através da visualização, é interessante usar cartões ou até cartazes
com anotações. Torne essas anotações atrativas, usando cores, marcando e
colorindo palavras que merecem ser enfatizadas.
Sugestão 3:
preencha os espaços. Imprima numa folha versículos com espaços para
palavras que devem ser preenchidos usando a memória. Nesse método é
interessante ter outra folha com os versículos completos para fazer a
memorização primeiro.
ESTILO 4 – AUDITIVO. Esse perfil tem inclinação musical. Podem memorizar facilmente através do canto ou simplesmente ouvindo.
Sugestão 1:
musicar e cantar. Experimente improvisar música sobre versos que queira
memorizar. Pode-se usar melodias famosas ou criar uma própria.
Sugestão 2:
gravar e ouvir. Use seu smartphone para gravar sua própria voz,
recitando de forma clara e no ritmo correto e depois ouvir até que tenha
memorizado.
Esses estilos são muito importantes na medida que o processo de
memorização difere de pessoa para pessoa. Ao descobrir qual o estilo ou
habilidade mais adequado para memorizar, qualquer passagem da Bíblia
poderá ser memorizada de forma mais simples que nunca.
Porque o reino de Deus não consiste em palavras, mas em poder (1 Coríntios 4:20).
Não poderia deixar de recomendar àqueles que tem dificuldades em
memorizar, que orem e peçam ajuda a Deus para que desperte em si a
capacidade de reter e poder fazer uso sempre que necessário da doce
Palavra de Deus. Após ter orado, confiante e obstinado, faça sua parte.
Eu acredito que você vai memorizar muitos e muitos versículos que
servirão como água fresca e cristalina num deserto, para a vida de
muitos, ainda.