domingo, 3 de abril de 2016

Cinco verdades disponíveis para quem memoriza versículos

As Escrituras Sagradas recomendam-nos trazer à memória nossa Fé, aquilo em que cremos, sempre que necessário, (2 Tm 1:5).


Imaginemos a seguinte situação: você está diante de um tremendo conflito pessoal ou existencial e tem disponível –  literalmente a qualquer momento – versículos memorizados para sua consulta íntima diante da adversidade. São versículos que formaram seu caráter cristão e tem cooperado no seu aprimoramento ao longo da caminhada com Deus. São como setas indicativas dispostas pelo melhor Guia que se possa imaginar, conduzindo ao caminho mais seguro por esse mundo de incertezas.

Por outro lado, imaginemos uma segunda situação: seja incrédulo, seja cristão, novo convertido ou veterano, que não dispõe desse recurso para trazer à memória quando o dia mal chega; está sozinho consigo mesmo, com suas próprias conclusões, digamos assim.

Acredito que não há muita dificuldade em deduzir qual dessas situações a pessoa terá maior segurança, tranquilidade e, claro, acerto nas decisões. Aliás, as Escrituras Sagradas recomendam-nos trazer à memória nossa Fé, aquilo em que cremos, sempre que necessário, (2 Tm 1:5). Fica difícil, relembrar aquilo que não memorizamos. Não dá pra ficar procurando aleatoriamente em nossos tablets, smartphones, programas de computadores ou seja que meio for, à maneira de um jogo de cartas ou caça-níquel, aquilo que Deus tem para nos dizer. A resposta dEle é sempre uma: a correta; e não uma entre milhares de opções. As opções são por nosso livre-arbítrio.

Meditação, uma das atividades da vida cristã, também está relacionada com a memorização. Passa obrigatoriamente por memorizar o que se ouve, lê ou vê. Meditar – metaforicamente falando – é ruminar o alimento espiritual que foi servido numa pregação, numa conversa amiga ou numa leitura profunda e impactante da Palavra de Deus. Sem memorização não há a meditação, consequentemente não há aquele período de acomodação do assunto apreendido em nossa mente, tornando-o disponível em nossa memória, sempre que necessário.

A maneira mais poderosa de se levar uma vida com Deus é memorizando as Escrituras. Sua palavra nos foi enviada não por capricho, mas para que a lêssemos, memorizássemos, aprendêssemos e vivêssemos por ela. A mente humana não tem as respostas certas para solucionar nossos dilemas cotidianos, muito menos aquelas que poderiam nos conduzir a Salvação eterna. Só obtemos essas respostas através das Escrituras.

A bem da verdade, esse certo desprezo pela memorização é reflexo de nossa sociedade. Com milhares e milhares de computadores disponíveis para armazenar dados e o seu acesso cada vez mais facilitado, por que iríamos continuar memorizando coisas? Há um lema recorrente nas discussões sobre educação que diz o seguinte: “Grande imaginação, profunda intuição”. É o bordão comum para as realizações intelectuais, até mesmo na ciência. Reflexo do mundo pós-romântico, pós-freudiano no qual a imaginação foi identificada com o inconsciente mental de grande poder criativo. É o ponto em que o homem vai procurar a partir da sua criatividade as respostas adequadas para a boa vida. Fica declarada a independência de Deus; desloca-se o eixo de Deus para o homem, que vai tornar-se cada vez mais senhor de si mesmo, do seu destino, do seu futuro.

Memória no contexto desse artigo é simultaneamente: memória treinada, educada e disciplinada. Seu princípio fundamental é dividir o material a ser lembrado em peças menores de tal modo que possam ser acessados facilmente e reconstruídos no momento adequado. Isso propicia um eficiente sistema de memória com acesso aleatório sem necessidade de reconstruir todo o caminho laboriosamente percorrido na sua construção.

A título de exemplificação, podemos citar Tomás de Aquino que ditou praticamente toda sua majestosa obra em meados do século XIII. É notório um fato pitoresco de quando ele jantava com o rei Luis XI. Havia um argumento que ele estava compondo contra os maniqueus e o preocupava há tempos.

De repente, num átimo, bate à mesa e declara: “Isso liquida os maniqueus!” e chama por Reginaldo – espécie de secretário – que estudava em seu aposento. Reginaldo deixa seu quarto e acompanhando o mestre, dispõe a escrever a medida que ele dita sem parar, tudo de memória. Esse incidente deve ter ocorrido na primavera de 1269, enquanto estava em curso a composição da segunda parte da “Summa theologica”.

É importante esse fato por exemplificar que um teólogo da envergadura de Aquino, usava o tempo todo a memória para elaborar sua obra, transitando entre os textos bíblicos e seus argumentos, com maestria. Nos escritos originais havia a assinatura (autógrafo) dos copiadores; uma prova de que era esse o método de trabalho de Tomás de Aquino. Há ainda inúmeras passagens dele e Bernardo Gui, que demonstram sua prodigiosa memória.

Estudiosos de Aquino, defendem que seria impossível tornar realidade tamanha obra por outro método que não fosse o auxílio de exímios copiadores, que transcreviam exaustivamente tudo o que era ditado.

Cinco verdades disponíveis para quem memoriza versículos

1 – Caminhar com Deus. “Para que guardes os meus conselhos e os teus lábios observem o conhecimento” (Provérbios 5:2). Para aquele que almeja uma vida justa, só há a opção de andar com Deus. Não há outro caminho a não ser ler as Escrituras e seguir o que Deus diz. A Bíblia nos foi dada como um meio de Deus nos comunicar seus propósitos, sua visão e promessas. “Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” (2 Coríntios 3:18).

2 – Conforto para si e para os outros. Quando se lê e apreende de coração versículos da Bíblia, as preocupações que outrora abatiam a alma, deixam de existir porque há a garantia que Deus nos guia nas decisões que tomamos. Ele está lá para confortar e dizer o que fazer. Deus dissipa nossos medos desnecessários. Uma vez em paz, a pessoa pode compartilhar com outros aquilo que é uma realidade em sua vida, citando os versículos que trazem segurança, conforto e paz no seu dia a dia.

3 – Comunicar-se com Deus. Ler a Bíblia diariamente e memorizar seus versículos é como ter uma conversa com Deus. A Bíblia é o meio que Ele usa para nos contar seus planos.

4 – Conselhos sobre o que fazer. A Bíblia ajuda a tomar decisões sábias. Deus transmitiu sua sabedoria através da sua Palavra. Viver segundo a Bíblia também ajuda a determinar qual decisão tomar. Há sempre disponível o conselho de Deus em sua Palavra quando se chega diante de uma encruzilhada da vida. Ele definitivamente ajuda na melhor escolha.

5 – Fortaleza em dias de angústia. Quando pressionados, sob estresse e em situações difíceis, nem sempre as decisões serão as melhores. Há o risco de se tomar decisões erradas e fazer coisas de acordo com uma “percepção” do que é certo. Ao memorizar a Palavra há o conforto e a confiança que Deus guiou-nos na decisão tomada.

Estilos de memorização

Há algumas músicas, até mesmo seculares, que grudam de tal modo e com tamanha rapidez em nossa memória que, muitas vezes de modo involuntário, nos pegamos repetindo-as. Ao mesmo tempo, porque encontramos tanta dificuldade em memorizar trechos que voluntariamente selecionamos e que julgamos ser importantes? Há atores que memorizam quase que instantaneamente páginas e páginas de roteiros com mínimo esforço. Pessoas diferem na maneira como aprendem. Alguns memorizam melhor lendo em voz alta, outros sentem-se mais confiantes quando escrevem o que leram. Há ainda aqueles que desenham e associam figuras com conteúdos complexos que precisam ser memorizados. O segredo é descobrir o estilo de memorização adequado a cada um.

Muitas vezes o fracasso em memorizar está ligado ao método inadequado escolhido para o perfil da pessoa. Identificado o estilo correto, é praticamente possível memorizar o que quiser.

Apresentamos aqui, de forma bem superficial, estilos para serem trabalhados posteriormente para aprimorar o processo de memorização de cada um.

ESTILO 1 – LEITOR. Essa técnica é mais adequada àqueles que tem facilidade apenas com a leitura. ACRONISMO: método no qual se usa a primeira ou primeiras letras de palavras para juntar e formar outra. Vejamos o exemplo: “Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus” (Romanos 3:24). Ficaria assim: SeJuGra PeGra PeRe HaCJ. Nesse método, pode-se ignorar artigos, preposições e até conjunções, pois virão a memória naturalmente para fazer dar sentido quando se recupera o versículo. LEITURA REPETITIVA: Técnica mais comum de memorização. É ler e ler até memorizar. Uma variedade dessa técnica é ir dividindo o versículo em partes menores e ir memorizando por partes. Memorize a parte 1; repita a parte 1 e memorize a parte 2; avance assim, sucessivamente, até ter feito com o versículo todo.

ESTILO 2 – CINESTÉSICO. Técnica na qual, durante o processo de memorização,  o participante gosta de se envolver não apenas com sua mente, mas de forma corporal, fazendo gestos, ações e até mesmo dançando. Sugestão 1: encontre um lugar adequado e encene pra si mesmo o texto bíblico a ser memorizado. Sugestão 2: em seu quarto: leia em voz alta recitando para si mesmo, caminhando   e repetindo até poder recitar de memória com toda segurança.

ESTILO 3 – VISUAL. Pessoas com aptidão visual sentem-se satisfeitas através de gráficos, cores, diagramas ou qualquer coisa que salte aos olhos e instigue sua imaginação. Perfis assim devem evitar lugares ou coisas que causem distração, como TV ligada, movimentação de pessoas, barulhos etc.
 Devem optar por locais que favoreçam a concentração. Sugestão 1: essa técnica simples, baseia-se tão somente em escrever e rescrever versículos numa folha até que se tenha memorizado. Sugestão 2: Usar cartões ou cartazes. Já que esse perfil pode lembrar-se facilmente através da visualização, é interessante usar cartões ou até cartazes com anotações. Torne essas anotações atrativas, usando cores, marcando e colorindo palavras que merecem ser enfatizadas. Sugestão 3: preencha os espaços. Imprima numa folha versículos com espaços para palavras que devem ser preenchidos usando a memória. Nesse método é interessante ter outra folha com os versículos completos para fazer a memorização primeiro.

ESTILO 4 – AUDITIVO. Esse perfil tem inclinação musical. Podem memorizar facilmente através do canto ou simplesmente ouvindo. Sugestão 1: musicar e cantar. Experimente improvisar música sobre versos que queira memorizar. Pode-se usar melodias famosas ou criar uma própria. Sugestão 2: gravar e ouvir. Use seu smartphone para gravar sua própria voz, recitando de forma clara e no ritmo correto e depois ouvir até que tenha memorizado.

Esses estilos são muito importantes na medida que o processo de memorização difere de pessoa para pessoa. Ao descobrir qual o estilo ou habilidade mais adequado para memorizar, qualquer passagem da Bíblia poderá ser memorizada de forma mais simples que nunca.

Porque o reino de Deus não consiste em palavras, mas em poder (1 Coríntios 4:20).
Não poderia deixar de recomendar àqueles que tem dificuldades em memorizar, que orem e peçam ajuda a Deus para que desperte em si a capacidade de reter e poder fazer uso sempre que necessário da doce Palavra de Deus. Após ter orado, confiante e obstinado, faça sua parte. Eu acredito que você vai memorizar muitos e muitos versículos que servirão como água fresca e cristalina num deserto, para a vida de muitos, ainda.

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