Roqueiro evangélico lembra amizade e conversa sobre religião com Chorão.
"Eu gostaria de olhar nos olhos do
Chorão e falar alguma coisa que tocasse o coração dele. Infelizmente eu
não posso mais", diz Rodolfo Abrantes, ex-vocalista dos Raimundos, hoje
músico evangélico, sobre o cantor do Charlie Brown Jr encontrado morto
na quarta-feira (6).
Rodolfo falou sobre a época em que
Chorão era "um dos poucos que podia dizer que era amigo" entre a geração
de bandas dos anos 90, na qual Raimundos e Charlie Brown Jr se
destacaram. Ele também destacou o interesse de Chorão pela conversão
religiosa do roqueiro evangélico, no início da década passada.
"Chorão estava ouvindo, absorvendo, não
me julgou", diz sobre a conversa de 2003, registrada em foto que ele
recebeu no celular no dia da morte do cantor.
Rodolfo comenta sobre as letras de
Chorão e sobre a o seu potencial para "levar multidões para Cristo". Na
discografia do Charlie Brown Jr, há doze músicas em que Deus é citado
diretamente. Horão gostava de "trocar uma ideia com Deus", frase usada
por ele para batizar a faixa bônus que fecha o disco "Nadando com os
tubarões", de 2000.
Quando se pensa nas letras de Chorão, a
primeira imagem talvez seja do rapaz sem dinheiro e desbocado que
corteja uma "princesa". Esse é o caso dos hits "Proibida pra mim",
“Vícios e virtudes”, “Tudo o que ela gosta de escutar” e “Champanhe e
Água Benta” (do verso "Toda patricinha adora um vagabundo"). Na mesma
música, dizia que sua vida era "tipo um filme de Spike Lee: verdadeiro,
complicado, mal-humorado e violento", em alusão ao diretor
norte-americano.
Há no cancioneiro do grupo, porém, temas
que remetem a questões menos materiais. Chorão volta e meia menciona "o
dom natural" que ele tem para se comunicar (expressão citada em “Uma
criança com o seu olhar”). O letrista também falava bastante sobre os
problemas que enfrentou antes do sucesso. Em “Não viva em vão”, cantava
sobre estar só. "A vida já me derrubou, a vida já me deu abrigo / Mas a
vida já me situou, que a solidão não faz sentido", dizia Chorão na
música.
A morte do pai, em 2001, inspirou versos
sempre emotivos, como os de "Lugar ao Sol". Na canção, cantava que
"azul a cor da parede da casa de Deus". Em “Pontes indestrutíveis”,
afirmava: "Tomo cuidado pra que os desequilibrados não abalem minha fé
pra eu enfrentar com otimismo essa loucura". E completava: "Os homens
podem falar, mas os anjos podem voar".
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